Messias Tavares de Souza

Messias Tavares de Souza – O homem que levou a deficiência à Constituição de 1988

Messias Tavares de SouzaDo mergulho ao despertar para a luta

O homem que levou a deficiência à Constituição de 1988

Messias Tavares de Souza nasceu em 27 de março de 1940, na cidade de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco .

Ingressou no setor bancário em sua juventude, construindo carreira no Banco do Brasil. Desde cedo demonstrou espírito de liderança e preocupação social, características que marcariam sua atuação futura.

Estabelecido profissionalmente e atuando no Banco do Brasil, Messias adquiriu experiência administrativa e contato com diversas realidades, o que o preparou para os desafios que viriam a seguir em sua vida pessoal e na militância.

Em 1974, aos 34 anos, Messias Tavares de Souza mergulhou no mar e emergiu para a história do Brasil.

O impacto com um banco de areia oculto causou uma fratura na coluna cervical, deixando-o tetraplégico. A medicina da época previa um destino de imobilidade e dependência.

Mas Messias escolheu o improvável: transformou o trauma pessoal numa revolução coletiva que impactaria milhões de vidas.

Messias Tavares de Souza
Família – Aniversário de 15 anos da neta Aline Tavares

Messias Tavares de Souza

O despertar do militante

Com fé, apoio incondicional de sua família e tratamento adequado, ele superou prognósticos pessimistas e recuperou sua autonomia possível.

Em 1976, dois anos após o acidente, Messias iniciou sua caminhada no movimento social, ele já estava reintegrado socialmente e disposto a ajudar outros na mesma condição.

Esse processo de reabilitação não se limitou aos aspectos físicos — incluiu também um despertar para a causa das pessoas com deficiência, transformando sua experiência pessoal em motivação para a ação coletiva.

Ingressou na diretoria da Associação dos Deficientes Motores (ADM) e, pouco depois, na Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes (FCD), organização de inspiração cristã dedicada ao apoio e mobilização de pessoas com deficiência. fundada pelo padre Vicente Masip.

Em pouco tempo, Messias assumiu a coordenação regional e, em 1978, foi eleito coordenador nacional da FCD, o que lhe permitiu ampliar sua articulação por todo o país.

Participou da articulação de entidades no Norte e Nordeste, aproximando estados muitas vezes invisibilizados nas decisões nacionais. Era um organizador nato, conciliador e combativo. Com sua voz calma e firme, uniu instituições que até então atuavam isoladamente.

Liderança em entidades e movimentos nos anos 1980

A década de 1980 marcou sua consolidação como liderança nacional. Messias já era uma voz influente no cenário da luta pelos direitos das pessoas com deficiência, conectando Pernambuco a redes nacionais.

Em 1981 – declarado pela ONU como Ano Internacional das Pessoas Deficientes – Messias teve um papel central em eventos históricos. Ele coordenou e presidiu o I Congresso Brasileiro de Pessoas Deficientes, realizado de 26 a 30 de outubro de 1981, em Recife .

Nesse mesmo ano e local, esteve à frente do II Encontro Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes, reunindo associações de vários estados .

Esses eventos pioneiros serviram para articular demandas e fortalecer a identidade do movimento em âmbito nacional, com Messias liderando as discussões sobre direitos, acessibilidade e cidadania.

A partir desse processo, surgiu a ONEDEFOrganização Nacional de Entidades de Deficientes Físicos, da qual ele foi coordenador nacional entre 1986 e 1988.

Messias Tavares de Souza

A Constituinte de 1988 e a defesa dos direitos

Ali, Messias foi além da representação: liderou, escreveu, articulou e construiu uma base de ação política e jurídica que seria essencial na Assembleia Constituinte.

Durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte de 1987–1988, a atuação de Messias foi decisiva. A ONEDEF, sob sua coordenação, organizou uma Emenda Popular com mais de 32 mil assinaturas, propondo 14 artigos voltados aos direitos das pessoas com deficiência.

No dia 28 de agosto de 1987, Messias subiu à tribuna do Congresso Nacional como porta-voz do movimento. Lá, fez história.

Pediu que os direitos das pessoas com deficiência não fossem tratados de forma assistencialista, nem isolados num capítulo à parte. Lutou para que esses direitos fossem inseridos no corpo dos direitos fundamentais da Constituição Cidadã.

E venceu.

A Constituição de 1988 passou a garantir, entre outros pontos:

• Direito à educação e saúde sem discriminação;

* Reserva de vagas em concursos públicos;

• Atendimento prioritário em políticas públicas;

Messias conseguiu o impensável: transformar dor em cidadania constitucional.

Depois da promulgação da Carta Magna, Messias não descansou. Tornou-se presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência de Pernambuco e representante da APABB no CONADE – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência.

Foi articulador na criação da CORDE (Coordenadoria Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência), espaço institucional que transformou ideias em políticas públicas.

Participou da gestão do jornal Etapa, publicou artigos, contribuiu com a formação de lideranças e nunca abandonou o diálogo com as bases populares.

Apoiou legislações como a que criou cotas nos concursos públicos de Pernambuco, com reserva de 3% a 5% das vagas para pessoas com deficiência – medida pioneira no país.

Messias Tavares de Souza

Internacionalização e prêmios

Messias levou o Brasil às discussões continentais. Participou de seminários do Instituto Interamericano sobre Deficiência e Desenvolvimento Inclusivo (IIDI), trocando experiências com lideranças da América Latina.

Messias Tavares de Souza

Recebeu o título de Comendador, a mais alta honraria concedida a cidadãos com contribuição reconhecida.

Ganhou também o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, categoria Garantia dos Direitos das Pessoas com Deficiência, do Governo Federal.

O legado que permanece

Messias faleceu em 2 de junho de 2015. Seu nome está presente em todas as rampas acessíveis, em cada concurso com vagas reservadas, em cada criança com deficiência que hoje estuda em escola pública.

Está no artigo 227 da Constituição, nas conferências nacionais e em cada cidadão com deficiência que ocupa um espaço que antes lhe era negado.

Instituições, militantes, jornalistas, professores, familiares e amigos reconhecem nele um baluarte da inclusão. Sua trajetória serve de guia, sua memória exige continuidade.

Uma vida que mudou o Brasil

Messias Tavares de Souza é muito mais que um nome na história. É símbolo de superação, inteligência cívica, persistência institucional e amor coletivo.

Sua biografia é uma prova viva de que a cidadania, quando bem defendida, torna-se eterna.

REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA