O Nerd de Goiás
O que é inteligência artificial e por que ela importa agora
No programa Provoca, transmitido pela TV Cultura, o cientista e professor Anderson Soares, uma das maiores autoridades em inteligência artificial no Brasil, explicou de forma acessível o impacto real dessa tecnologia no nosso cotidiano.
Atividades humanas como ouvir, reconhecer rostos e traduzir idiomas em tempo real já estão sendo executadas por máquinas com impressionante precisão.
Ele destacou o avanço da chamada inteligência artificial generativa — aquela capaz de criar conteúdos inéditos, como textos, vídeos e áudios.
Hoje, mesmo sem saber programar, qualquer pessoa pode produzir um vídeo realista ou um resumo detalhado com apenas um comando de voz ou texto.
É um salto que revoluciona a forma como nos comunicamos, aprendemos e produzimos conhecimento.
Mais do que uma tendência tecnológica, estamos diante de uma mudança profunda de era.
Assim como os computadores aposentaram as máquinas de escrever, agora a IA reorganiza o trabalho, a educação e até as interações sociais.
Tudo isso exige não só adaptação, mas também compreensão crítica do que essa tecnologia representa — e para onde ela pode nos levar.
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O trabalho do futuro começa agora
Embora o entusiasmo com a IA seja crescente, os impactos no mercado de trabalho são inevitáveis.
Anderson foi claro ao afirmar que ainda estamos num estágio intermediário da revolução, mas que diversas profissões já começaram a sentir seus efeitos.
O desafio está em transformar essa ameaça em oportunidade, desenvolvendo novas competências.
Ele citou sua própria experiência como professor. Ao se perguntar por que seus alunos ainda vão ao campus, já que há aulas excelentes disponíveis na internet, encontrou uma resposta valiosa: a vivência real e a troca humana.
Os conteúdos estão em todos os lugares, mas a experiência de quem vive e conecta o conhecimento ao mundo concreto ainda tem papel insubstituível.
Esse pensamento se aplica a todas as áreas. A IA pode assumir tarefas repetitivas, liberando tempo para que os profissionais se dediquem ao que realmente importa: criatividade, empatia, escuta, estratégia.
Mais do que uma substituta, a inteligência artificial deve ser vista como aliada do que temos de mais nobre como seres humanos.
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O Brasil entre a criatividade e os entraves estruturais
Segundo pesquisa do Google, 65% dos brasileiros têm uma visão positiva da IA — número superior à média global.
Para Anderson, essa receptividade vem de uma cultura emocional e inventiva.
Somos o povo da gambiarra, da adaptação, da experimentação. E essas características nos favorecem em ambientes de inovação acelerada.
Contudo, o Brasil enfrenta um velho inimigo: a carência de infraestrutura tecnológica.
Apesar de possuir talentos reconhecidos e bases de dados robustas — como o SUS e a Justiça Eleitoral —, os investimentos ainda são tímidos.
O Centro de Excelência em IA da Universidade Federal de Goiás, por exemplo, recebeu R$ 42 milhões, valor considerado baixo diante do necessário para competir internacionalmente.
E o tempo é um fator fundamental . Revoluções tecnológicas não esperam.
Entrar tarde na corrida global significa perder oportunidades de desenvolvimento econômico e social.
O recado é direto: o país precisa agir com planejamento, unir universidades e empresas, e transformar o conhecimento acadêmico em inovação aplicada — antes que fique para trás.
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Ética, regulação e os limites do bom senso
A inteligência artificial, como qualquer ferramenta poderosa, carrega riscos e responsabilidades.
Anderson defende que a regulamentação deve focar no uso — e não na pesquisa. Impedir o avanço da ciência seria inédito e contraproducente.
Mas permitir o uso indiscriminado da tecnologia pode gerar problemas graves.
O pesquisador citou casos em que uma IA generativa pode ser usada tanto para aprimorar uma imagem quanto para criar deepfakes difamatórios.
A mesma ferramenta pode ajudar ou prejudicar, dependendo do contexto. Por isso, é essencial que governos, desenvolvedores e sociedade civil compartilhem a responsabilidade pelo uso ético e seguro da IA.
Segundo ele, o Brasil pode se tornar um exemplo internacional na formulação de diretrizes sobre o tema.
Com instituições sólidas, tradição jurídica e produção científica consistente, o país tem as ferramentas para liderar discussões sobre limites, transparência e responsabilidade no uso da inteligência artificial.
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Goiás, diversidade e o exemplo do Centro de Excelência
Nascido em Catalão, cidade do interior de Goiás, Anderson Soares transformou sua trajetória pessoal em um projeto nacional.
Após estudar na USP e no ITA, decidiu voltar ao seu estado natal para fundar o CEIA — Centro de Excelência em Inteligência Artificial da UFG. O projeto hoje é referência no país, com quase 800 pesquisadores e dezenas de empresas parceiras.
Um dos pilares do sucesso do centro é a diversidade. Anderson se orgulha de ter formado a primeira mulher com honras em IA no Brasil.
Ele acredita que a inovação nasce do encontro entre diferentes vivências, histórias e visões de mundo.
A pluralidade cultural e social é vista por ele como um motor para soluções criativas e eficazes.
O CEIA é também uma história de parceria. Telma, sua esposa e atual coordenadora-geral do centro, é o contraponto pragmático ao perfil criativo e caótico de Anderson.
Juntos, organizam uma “cozinha” complexa de pesquisa, desenvolvimento e inovação. E provam que é possível fazer ciência de excelência em qualquer canto do país — basta querer.
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Assista à entrevista
A conversa completa entre Anderson Soares e Marcelo Tas no programa Provoca é rica em reflexões, humor e provocações sobre o papel da inteligência artificial no Brasil e no mundo.
O vídeo está disponível gratuitamente no YouTube, com acessibilidade e tradução automática para diversos idiomas.
Ao assistir, é possível entender melhor o pensamento do cientista e o contexto atual da tecnologia.
A entrevista explora desde questões técnicas até dilemas éticos, passando por experiências pessoais e histórias emocionantes que humanizam o debate.
Um conteúdo altamente recomendado para educadores, estudantes, gestores públicos e entusiastas da tecnologia.
Confira o vídeo completo em:
Conclusão: inteligência com propósito e alma
Na reta final da entrevista, Anderson respondeu à pergunta derradeira: “O que é a vida?”.
Sua resposta: “Um sopro curto demais pra importância que ela tem”.
A inteligência artificial pode fazer cálculos, previsões, gerar imagens e textos — mas não pode, ao menos por enquanto, compreender sentimentos, criar vínculos ou transmitir afeto.
A verdadeira revolução está em como usaremos essa tecnologia para libertar o tempo e a mente. Para focar no que nos faz únicos.
Para criar com propósito, colaborar com empatia, e viver com mais profundidade. A inteligência artificial não precisa ser uma ameaça. Ela pode — e deve — ser uma extensão da nossa humanidade.
E cabe ao Brasil decidir: vamos ser meros consumidores dessa revolução ou protagonistas da nova era digital?
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa