O Novo Marketing: Como as Marcas Vendem Emoções em Vez de Produtos

Nos dias de hoje, a publicidade tradicional ficou para trás. 

Empresas inovadoras perceberam que os consumidores não compram apenas mercadorias, mas sim histórias e sentimentos. 

O azeite de oliva Graza e a água enlatada Liquid Death são exemplos desse fenômeno. Com estratégias baseadas na identidade e pertencimento, essas marcas conquistaram públicos fiéis e transformaram itens comuns em símbolos culturais.

Marcas Vendem Emoções em Vez de Produtos

A Evolução do Marketing: Do Produto à Emoção

No início do século XX, a publicidade era direta e objetiva. Os anúncios se limitavam a apresentar as qualidades de um item, destacando vantagens e preços. 

Catálogos eram recheados de descrições simples, sem qualquer narrativa envolvente. O foco estava na utilidade, e não no impacto emocional.

Porém, a forma de vender passou por uma revolução na década de 1920. Os publicitários descobriram que era possível associar mercadorias a desejos inconscientes. 

Um dos pioneiros dessa abordagem foi Edward Bernays, que usou princípios da psicanálise para transformar o consumo em uma experiência carregada de significado. 

Desde então, a publicidade deixou de ser apenas informativa e passou a explorar os anseios do público.

Hoje, o marketing emocional está no centro das grandes campanhas. Mais do que funcionalidade, os consumidores buscam identificação. 

Uma simples garrafa de azeite ou um copo de água podem carregar uma mensagem de pertencimento, modernidade ou até mesmo rebeldia. A publicidade deixou de vender produtos para comercializar sensações.

Marcas Vendem Emoções em Vez de Produtos

O Caso Graza: O Azeite Como Objeto de Desejo

O azeite de oliva Graza conseguiu transformar um item milenar em um símbolo contemporâneo. A estratégia envolveu desde o design da embalagem até a comunicação visual. 

A tradicional garrafa de vidro foi substituída por uma versão moderna e funcional, que se destaca pela praticidade e pelo tom vibrante.

A escolha da cor verde brilhante não foi por acaso. Em vez de remeter à sofisticação, o visual transmite acessibilidade e jovialidade. O produto não quer parecer um artigo exclusivo, mas sim algo presente no cotidiano de quem valoriza a culinária sem formalidades. A marca construiu uma identidade visual que comunica simplicidade, sem perder a qualidade.

Além disso, a Graza aposta em redes sociais para fortalecer sua presença. O conteúdo divulgado não se limita a receitas elaboradas ou pratos refinados. 

A abordagem privilegia vídeos espontâneos, mostrando pessoas comuns preparando refeições descomplicadas. A empresa não vende apenas azeite, mas a ideia de que qualquer um pode ser um cozinheiro descolado e autêntico.

Marcas Vendem Emoções em Vez de Produtos

Liquid Death: A Água Como Símbolo de Rebeldia

A marca Liquid Death adotou um caminho oposto ao das águas tradicionais. Em vez de apostar na pureza e no bem-estar, a empresa construiu uma identidade ousada e irreverente. 

A embalagem, que lembra uma lata de cerveja, e o slogan provocativo “Mate sua sede” fazem parte de uma estratégia pensada para atrair um público específico.

O objetivo da marca foi conquistar consumidores que se sentiam distantes das narrativas convencionais do mercado de águas. 

Com um estilo punk, a Liquid Death usa a cultura alternativa como diferencial. Suas campanhas incluem eventos de heavy metal e trailers de filmes fictícios sobre uma “água assassina”. A hidratação se tornou um ato de rebeldia.

O impacto dessa abordagem é visível. A marca criou uma comunidade engajada, onde os consumidores se identificam com o conceito e não apenas com o líquido dentro da lata. 

O produto se tornou um acessório de estilo, mais próximo de uma peça de vestuário do que de um item de supermercado. A conexão emocional criada impulsiona vendas e fideliza clientes.

Marcas Vendem Emoções em Vez de Produtos

A Psicologia do Consumo: Como Decidimos o Que Comprar

Estudos sobre comportamento de compra revelam que as decisões são tomadas primeiro no nível emocional e só depois justificadas racionalmente. 

O neurocientista Antonio Damasio demonstrou que indivíduos com danos na região cerebral responsável pelas emoções tinham extrema dificuldade em escolher entre diferentes produtos, mesmo quando dispunham de todas as informações necessárias.

Isso significa que a publicidade eficaz não foca apenas em argumentos lógicos. As marcas mais bem-sucedidas são aquelas que sabem ativar gatilhos emocionais no consumidor. 

Quando um produto evoca um sentimento de pertencimento, confiança ou transgressão, ele se torna mais desejável.

A estratégia adotada por Graza e Liquid Death reforça essa lógica. Em ambos os casos, o apelo emocional supera as características do produto em si. 

Não se trata apenas de vender azeite ou água, mas de oferecer um estilo de vida. Essa abordagem transforma clientes em defensores espontâneos das marcas.

O Papel das Redes Sociais no Marketing Atual

As redes sociais desempenham um papel fundamental na consolidação do marketing emocional. Marcas que compreendem a dinâmica dessas plataformas conseguem criar conexões profundas com o público. 

A Graza, por exemplo, utiliza vídeos curtos e descontraídos, em que a comida aparece de forma acessível e descomplicada.

Já a Liquid Death aposta no humor e no impacto visual para gerar engajamento. Seu conteúdo não se limita a exaltar os benefícios da hidratação, mas sim a construir uma narrativa que diverte e intriga. 

A marca lançou um álbum de heavy metal baseado em comentários de ódio recebidos online, demonstrando domínio das tendências digitais.

A viralização desse tipo de material fortalece a relação entre a marca e seus consumidores. 

O público não apenas compra o produto, mas se torna parte de um grupo que compartilha os mesmos valores e interesses. 

Esse engajamento transforma clientes em verdadeiros embaixadores espontâneos da marca.

Marcas Vendem Emoções em Vez de Produtos

Vídeo 

O Vídeo que deu suporte a este texto foi o que segue abaixo:

Os Desafios Éticos do Marketing Emocional

Apesar das vantagens dessa abordagem, há um debate sobre os limites éticos do marketing emocional. 

Muitas marcas utilizam discursos que parecem autênticos, mas que na verdade são construídos apenas para manipular sentimentos. 

O fenômeno do “greenwashing” exemplifica essa prática, em que empresas fingem compromisso com a sustentabilidade para atrair consumidores conscientes.

A dificuldade em distinguir valores reais de estratégias de persuasão levanta questões importantes. 

Se as empresas conseguem mapear as emoções dos consumidores com extrema precisão, elas podem criar narrativas que induzem decisões de compra sem que os clientes percebam o nível de influência exercido.

Diante desse cenário, torna-se essencial que os consumidores desenvolvam um olhar crítico. Antes de se deixar levar por uma campanha emocionante, é preciso avaliar se a empresa realmente entrega o que promete. 

A transparência e a coerência entre discurso e prática devem ser critérios fundamentais na escolha de marcas para apoiar.

Marcas Vendem Emoções em Vez de Produtos

Conclusão: O Futuro do Marketing e o Papel do Consumidor

O marketing emocional veio para ficar. No futuro, a personalização das campanhas será ainda mais intensa, com o uso de inteligência artificial para entender e influenciar o comportamento do público. 

As marcas se tornarão verdadeiras criadoras de conteúdo, ampliando a fronteira entre publicidade e entretenimento.

Contudo, os consumidores também precisam evoluir. É necessário questionar quais emoções estão sendo vendidas e se elas agregam valor real. 

A busca por autenticidade será um diferencial tanto para empresas quanto para clientes que desejam investir em produtos que realmente representem seus valores.

Ao entender as estratégias utilizadas pelas grandes marcas, o consumidor ganha autonomia para fazer escolhas mais conscientes. 

Em um mundo onde sentimentos são comercializados, a informação se torna a melhor ferramenta para decidir o que realmente vale a pena consumir.

Anand Rao e Agnes Adusumilli 

Editores Chefes

Cultura Alternativa