Taxa de desemprego neutra mais baixa ganha força no Brasil - Cultura Alternativa

Taxa de desemprego neutra mais baixa ganha força no Brasil

A taxa de desemprego neutra no Brasil tem sido amplamente debatida, principalmente após a sequência de quedas no índice de desocupação sem impacto significativo sobre a inflação.

A taxa caiu para 7,1% no segundo trimestre de 2025, ante 8% no mesmo período de 2024, segundo dados do IBGE.

Esse resultado levanta a hipótese de que o nível de desemprego que não pressiona a inflação pode estar abaixo do intervalo estimado entre 8% e 10%.

Mercado em recuperação

Contudo, os resultados mais recentes do mercado de trabalho mostram uma expansão contínua na criação de empregos.

No trimestre encerrado em junho, o número de trabalhadores ocupados chegou a 101,3 milhões, com aumento de aproximadamente 700 mil em relação ao ano anterior. A taxa de participação da força de trabalho permaneceu acima de 62%, consolidando o avanço.

Além disso, houve crescimento expressivo no emprego formal, com 33,8 milhões de trabalhadores com carteira assinada.

Em contrapartida, 25,8 milhões permanecem em situação de informalidade, revelando desafios ainda presentes. Mesmo assim, a formalização vem ganhando espaço, garantindo maior estabilidade e renda aos empregados.

Portanto, a queda do desemprego foi acompanhada por mudanças estruturais. Setores de serviços e comércio lideraram a absorção de mão de obra, enquanto a indústria perdeu dinamismo. O consumo, estimulado por políticas públicas e crédito, também reforçou esse ciclo positivo.

Desafios persistentes

Entretanto, especialistas alertam que o desemprego entre os jovens segue em patamar elevado. A taxa para a faixa etária de 18 a 24 anos chegou a 17,3%, mais do que o dobro da média nacional. Esse grupo concentra a maior parte da informalidade, o que dificulta a construção de carreiras sólidas.

Além disso, apesar dos avanços gerais, a vulnerabilidade de trabalhadores informais ainda preocupa. Eles representam cerca de um terço da força de trabalho, o que limita a arrecadação previdenciária e reduz a segurança social. Esse cenário exige políticas consistentes para inclusão produtiva.

Assim, os dados sugerem que a melhoria não é homogênea. Enquanto o saldo de empregos formais apresenta resultados positivos desde 2021, segmentos mais frágeis da população permanecem em risco. A superação desse quadro depende da combinação entre crescimento econômico e políticas de inclusão social.

Fatores estruturais

Por outro lado, mudanças sociais e comportamentais também influenciam o novo patamar do desemprego.

O aumento da participação feminina no mercado de trabalho e a maior inserção de jovens são fatores que ampliaram a oferta de mão de obra. Esse movimento ajudou a reduzir a informalidade e fortalecer vínculos empregatícios.

Ademais, o crescimento da atividade econômica, de 16,3% nos últimos anos, criou condições favoráveis para expansão do emprego. A estabilidade da dívida pública e o fortalecimento do crédito impulsionaram setores como comércio e serviços, que absorveram grande parte da mão de obra. Isso explica o desempenho animador observado nos últimos trimestres.

Consequentemente, os analistas apontam que a taxa de desemprego neutra pode ter se deslocado para baixo. O equilíbrio entre oferta e demanda por trabalho tem se mostrado mais sustentável, sem gerar pressões inflacionárias significativas. Esse resultado é considerado inédito no histórico recente do Brasil.

Perspectivas para 2025

No entanto, a discussão sobre a taxa neutra envolve mais do que a conjuntura imediata. Historicamente, quedas acentuadas no desemprego provocavam pressões salariais que impactavam a inflação. Hoje, o cenário é diferente, o que indica possíveis mudanças na dinâmica do mercado.

Além disso, o Banco Central acompanha de perto os indicadores de emprego e renda para calibrar a política monetária. O desempenho recente dá margem para ajustes graduais, sem riscos iminentes de inflação. Esse espaço pode ser essencial para sustentar o crescimento.

Por fim, as projeções para 2025 indicam manutenção da taxa de desemprego entre 7,1% e 8,5%. Caso a geração de empregos formais continue, a informalidade deve cair e a renda média pode avançar. Assim, a hipótese de uma taxa de desemprego neutra mais baixa ganha cada vez mais força entre especialistas.


Anand Rao
Editor Chefe
Cultura Alternativa