Uso de antidepressivos em adultos
Uso de antidepressivos cresce entre adultos brasileiros: estudo revela avanço da depressão e uso de medicamentos
Você conhece alguém que começou a tomar antidepressivos nos últimos anos? Se sim, você não está só.
Um levantamento exclusivo publicado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) revela que o consumo desses medicamentos aumentou 12,4% entre brasileiros de 29 a 58 anos, entre os anos de 2019 e 2023.
A pesquisa expõe, com clareza, um cenário preocupante: a saúde mental está fragilizada e exige atenção urgente.
Por que o consumo de antidepressivos aumentou no Brasil?
De acordo com o CFF, os antidepressivos se tornaram alguns dos medicamentos mais utilizados no país, ao lado de remédios para doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. Esse crescimento não é isolado. Também foi registrado aumento no uso de ansiolíticos, como o clonazepam, o que reforça a sensação generalizada de ansiedade e estresse entre os brasileiros.
Dentre os principais fatores que contribuem para essa realidade estão o estresse contínuo, as pressões do cotidiano, o luto, a instabilidade econômica e a solidão, agravada pela pandemia de COVID-19.
Ainda que o período mais crítico da crise sanitária tenha passado, suas consequências emocionais continuam a se manifestar, afetando de forma profunda o bem-estar da população.
Nesse contexto, é válido destacar também o papel da informação. Atualmente, as pessoas reconhecem mais facilmente os sintomas da depressão e da ansiedade, o que favorece a busca por ajuda especializada. Por essa razão, o aumento no consumo pode refletir, em parte, maior acesso ao diagnóstico e ao tratamento.
Uso de antidepressivos em adultos
Diferenças regionais e desigualdade no acesso
A pesquisa aponta que as regiões Sudeste e Sul concentram a maior parte das vendas de antidepressivos e ansiolíticos. Isso pode estar relacionado à maior oferta de profissionais da saúde, centros de atendimento e farmácias.
Em contrapartida, regiões como o Norte e o Nordeste enfrentam limitações estruturais, o que pode dificultar o acesso a tratamentos adequados e gerar subnotificação.
Essas disparidades revelam que a saúde mental, apesar de afetar todo o país, é tratada de forma desigual, reforçando a necessidade de políticas públicas regionalizadas e com foco em equidade.
Como enfrentar a crise de saúde mental no país
A crescente medicalização do sofrimento humano levanta um debate necessário. Embora o uso de antidepressivos possa ser essencial em muitos casos, ele não deve ser a única resposta ao sofrimento psíquico. O tratamento ideal inclui acompanhamento psicológico, escuta qualificada e, sempre que possível, estratégias complementares como a prática de atividades físicas, meditação e convivência comunitária.
Sob essa ótica, é urgente reforçar o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) na promoção da saúde mental. A ampliação da cobertura de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), a presença de psicólogos nas unidades básicas de saúde e a formação continuada de profissionais para acolhimento emocional são medidas que precisam ser priorizadas.
Além disso, campanhas educativas que combatam o estigma em torno da depressão e da ansiedade são fundamentais para que mais pessoas busquem ajuda sem medo ou vergonha.
Uso de antidepressivos em adultos

Considerações finais
O crescimento do uso de antidepressivos no Brasil reflete um fenômeno silencioso, mas alarmante. Os dados não apenas alertam sobre o avanço da depressão e da ansiedade, como também expõem um país que ainda engatinha na construção de uma cultura de cuidado emocional.
Dessa forma, é necessário ir além dos números. Cuidar da saúde mental é responsabilidade de todos: do Estado, da sociedade e de cada indivíduo. Que esse novo cenário nos desperte para a importância do acolhimento, da escuta e da empatia no cotidiano.
Agnes Adusumilli
Cultura Alternativa