Feira do Livro 2025: um espaço de ideias, diversidade e resistência literária
Mais do que uma vitrine de lançamentos, a Feira do Livro de São Paulo 2025 se consolida como um espaço simbólico de escuta, troca e resistência.
Em tempos em que o debate público sofre constantes tensionamentos e a leitura compete com múltiplas distrações digitais, reunir escritores, editoras e leitores em praça pública torna-se um gesto cultural de fôlego.
Marcada para acontecer entre os dias 14 e 22 de junho, na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, a quarta edição da Feira já se destaca pela curadoria diversa e pelas pautas que pretende colocar em circulação.
A primeira lista de autores confirmados — composta por 40 nomes — evidencia o compromisso do evento com a pluralidade de vozes e com os temas contemporâneos que desafiam o nosso tempo.
Entre os brasileiros, nomes como Drauzio Varella, Tati Bernardi, Lázaro Ramos e Marcelo Rubens Paiva trazem ao público narrativas que transitam entre a literatura, a crônica e o engajamento social.
Feira do Livro 2025
Já Cidinha da Silva, um dos nomes mais contundentes da literatura negra atual, representa o necessário reposicionamento de olhares que a literatura brasileira vem experimentando nas últimas décadas.
A presença de Marilena Chaui, referência no pensamento filosófico brasileiro, promete não apenas atrair leitores, mas provocar reflexões importantes sobre democracia, política e subjetividade — temas caros à intelectualidade e ainda mais urgentes no atual cenário.
No panorama internacional, a escolha de nomes como Lídia Jorge, Lina Meruane e Ruth Wilson Gilmore reforça o caráter transfronteiriço do evento. Com suas obras, essas autoras trazem à cena discussões sobre colonialismo, gênero, direitos civis e justiça social — ampliando o espectro temático da Feira e enriquecendo o diálogo entre culturas.
Feira do Livro 2025
Além dos encontros com autores, a programação incluirá oficinas, lançamentos, debates e rodas de conversa sobre meio ambiente, inovação, alimentação e relações de poder. O espaço infantil também terá curadoria própria, com atividades voltadas à formação leitora desde a infância.
Outro destaque será o Clube de Professores, que oferecerá credenciais especiais e benefícios em parceria com editoras — uma iniciativa que reforça o papel da educação no fomento à leitura.
Entretanto, a coincidência de datas com a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que ocorrerá no mesmo período, levanta um ponto sensível. Embora a organização da Feira paulista tenha declarado que a sobreposição não foi intencional, o cenário gera um embate delicado entre dois modelos de evento: de um lado, a Bienal com seu formato comercial consolidado; de outro, a Feira com sua proposta horizontal, voltada à ocupação do espaço público e ao diálogo aberto.
A questão que se impõe é: há espaço — e público — para ambas? Ou o mercado editorial sai prejudicado diante dessa divisão?
O fato é que, mesmo diante desses desafios, a Feira do Livro 2025 se apresenta como uma celebração da leitura em suas múltiplas formas. Em uma sociedade marcada por desigualdades, pensar o livro como ferramenta de acesso e transformação é mais do que necessário — é estratégico.
E, ao ocupar uma praça no coração de São Paulo, o evento reafirma que literatura também se faz na rua, na escuta e no encontro.
A poucos meses de sua realização, a expectativa é alta. A lista inicial de autores já sugere que esta será uma edição marcada pela diversidade estética, pela densidade temática e por um desejo coletivo de pensar o mundo a partir das palavras.
Para leitores atentos, escritores inquietos e amantes do pensamento crítico, a Feira do Livro de São Paulo promete não apenas páginas, mas experiências que permanecem.
REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA