Você já ouviu falar da ora-pro-nóbis? Talvez da taioba? E o baru, uma castanha do Cerrado? Esses nomes ainda soam exóticos para muita gente, mas representam alimentos poderosos, com enorme valor nutricional, que brotam nos quintais e biomas brasileiros.
Ignorados por décadas, esses superalimentos regionais começam a ganhar reconhecimento não apenas por suas qualidades nutricionais, mas também por representarem uma alimentação mais sustentável, acessível e conectada às raízes culturais do Brasil.
Por aqui, vamos apresentar o potencial da ora-pro-nóbis, da taioba e do baru — e por que você deveria incluí-los no seu prato.
Ora-pro-nóbis: a rainha proteica das folhas verdes
Nativa de Minas Gerais, a ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata) é uma planta trepadeira rica em proteínas. Suas folhas secas podem conter até 25% de proteína, além de fibras, ferro, cálcio, magnésio e vitaminas A, C e do complexo B, segundo estudos da Universidade Federal do Paraná.
Ela é uma fonte acessível de aminoácidos essenciais — e por isso é tão valorizada por quem adota dietas vegetarianas ou busca maior diversidade proteica.
Além do valor nutricional, a ora-pro-nóbis possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e cicatrizantes. Versátil na cozinha, pode ser usada em refogados, tortas, caldos e até sucos.
Seu sabor leve e sua textura macia tornam a introdução fácil, até para quem não tem o hábito de consumir PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais).

Superalimentos
Taioba: tradição, ferro e sabor no mesmo prato
A taioba (Xanthosoma sagittifolium) já é conhecida em muitas casas do interior, principalmente em Minas Gerais e no Espírito Santo.
Porém, nas grandes cidades, ainda é subestimada. Estudos da USP indicam que ela contém mais proteína do que o espinafre e é especialmente rica em ferro, cálcio, fósforo e zinco — elementos fundamentais para a saúde óssea, muscular e imunológica.
Cozida corretamente (as folhas cruas contêm oxalatos que devem ser neutralizados com calor), a taioba se transforma em um ingrediente suave e nutritivo, ideal para refogados, omeletes, bolinhos e caldos.
É um ótimo substituto para vegetais mais caros e importados, com a vantagem de ser cultivada localmente e ter menor impacto ambiental.
Baru: a castanha funcional do Cerrado
O baru (Dipteryx alata), também conhecido como cumbaru, é uma semente nativa do Cerrado, especialmente dos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.
Pouco conhecido fora dessas regiões, o baru é extremamente nutritivo: contém proteínas, gorduras boas (como o ômega 9), fibras e minerais como ferro, zinco e magnésio.
Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) também destaca seu alto poder antioxidante e sua capacidade de auxiliar na redução do colesterol ruim.
Seu sabor lembra o amendoim tostado, e pode ser consumido como snack, ou usado em receitas doces e salgadas — de farofas a brownies.
O grande desafio está em torná-lo mais acessível: o baru ainda é caro em muitos centros urbanos, por causa do processo de coleta e quebra da semente, que é extremamente dura.
Superalimentos
Alimentos do futuro que vêm do passado
Em um cenário global de insegurança alimentar, mudanças climáticas e busca por dietas mais equilibradas, resgatar alimentos como a taioba, o baru e a ora-pro-nóbis é mais do que uma escolha saudável — é um ato de preservação cultural e ambiental.
Essas espécies são adaptadas ao nosso clima, exigem menos água, resistem a pragas sem agrotóxicos e podem gerar renda para comunidades rurais e agricultores familiares.
Chefs renomados como Alex Atala e Bela Gil já vêm valorizando essas iguarias brasileiras em seus cardápios, e movimentos de gastronomia sustentável incentivam o resgate dessas plantas como parte de uma alimentação afetiva, saudável e identitária.
Qual deles é ideal para você?
Alimento | Destaque Nutricional | Uso na Cozinha |
---|---|---|
Ora-pro-nóbis | Alta proteína, ferro e fibras | Refogados, tortas, sucos |
Taioba | Ferro, cálcio, zinco | Omeletes, refogados, bolinhos |
Baru | Gorduras boas e antioxidantes | Snacks, farofas, doces, pães |
Conclusão: redescubra os sabores do Brasil
O Brasil é um dos países mais biodiversos do mundo, e essa riqueza também está nos ingredientes que crescem em nossos quintais, serrados e hortas.
Incorporar superalimentos regionais à rotina é um gesto de cuidado com a saúde e com o planeta — e um mergulho saboroso na cultura alimentar brasileira.
Na próxima ida à feira ou ao mercado, pergunte: tem taioba? Tem ora-pro-nóbis? Já experimentou o baru? Às vezes, a revolução na sua alimentação pode começar com algo que cresce logo ali, ao lado de casa.
Por Anand Rao e Agnes Adusumilli
Cultura Alternativa – Informação com identidade brasileira