Affonso Romano de Sant’anna e Marina Colasanti: - Site Cultura Alternativa

Affonso Romano de Sant’anna e Marina Colasanti: a comunhão da vida, amor e morte

Affonso Romano de Sant’anna e Marina Colasanti

No cenário literário brasileiro, poucos casais conseguiram entrelaçar tão perfeitamente suas trajetórias pessoais e profissionais quanto Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti.

Unidos pela escrita, pelo pensamento crítico e pelo amor à cultura, consolidaram uma parceria que transcendeu décadas e inspirou gerações.

Seus legados ultrapassam a esfera individual: Affonso, com sua produção poética e reflexões ensaísticas, tornou-se uma voz de relevância na literatura e no jornalismo.

Marina, por sua vez, soube mesclar delicadeza e profundidade, criando narrativas que marcaram a literatura infantojuvenil e adulta.

A história dos dois, repleta de cumplicidade e realizações, chegou ao fim de maneira simbólica, com a morte deles em um curto intervalo de tempo.

Affonso Romano de Sant’anna e Marina Colasanti

Quem foi Affonso Romano de Sant’Anna

Nascido em Belo Horizonte, em 27 de março de 1937, Affonso Romano de Sant’Anna foi um dos escritores mais influentes de sua geração.

Poeta, ensaísta, professor e cronista, transitou por diversas formas de expressão literária, sempre com um olhar aguçado sobre a sociedade e a política.

Doutor em Letras, dedicou-se à pesquisa acadêmica e ao ensino, passando por instituições prestigiadas no Brasil e no exterior.

Sua atuação como presidente da Biblioteca Nacional entre 1990 e 1996 deixou um impacto significativo, com a modernização do acervo e iniciativas voltadas à democratização do acesso à leitura.

Paralelamente, colaborou com veículos de grande circulação, como o Jornal do Brasil e O Globo, consolidando-se como um dos principais cronistas do país.

Autor de mais de 70 obras, seu nome está gravado na história da literatura brasileira. Seus textos abordavam desde questões políticas e filosóficas até reflexões sobre o cotidiano, sempre com profundidade e sofisticação.

Affonso Romano de Sant’anna e Marina Colasanti

Quem foi Marina Colasanti

Marina Colasanti nasceu em Asmara, na Eritreia, em 26 de setembro de 1937, e passou parte da infância entre Itália e Líbia antes de se estabelecer no Brasil. Sua formação inicial foi em artes plásticas, mas o jornalismo e a literatura logo se tornaram suas principais paixões.

Ao longo da carreira, publicou mais de 70 livros, transitando entre gêneros como poesia, contos e literatura infantojuvenil. Sua escrita se caracterizou por um estilo lírico e simbólico, influenciado pelos contos de fadas, mas com um viés contemporâneo e reflexivo.

Marina foi agraciada com diversos prêmios literários, incluindo múltiplos Prêmios Jabuti e o Prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil.

Além da escrita, Marina também teve uma importante atuação como tradutora e editora, contribuindo para a difusão da literatura internacional no Brasil. Seu trabalho sempre refletiu uma preocupação estética e social, tornando-se referência para escritores e leitores de todas as idades.

Affonso Romano de Sant’anna e Marina Colasanti

O amor dos dois

Affonso e Marina se conheceram nos anos 1960 e, desde então, construíram uma relação baseada no respeito, na admiração e no compartilhamento de ideias. Casados em 1971, foram parceiros na vida e na literatura, dividindo projetos, reflexões e inspirações.

O livro “O Imaginário a Dois”, publicado em 1987, é um dos símbolos dessa comunhão intelectual e afetiva. Nele, os dois exploram a construção da literatura e da criatividade a partir de suas experiências. Além disso, participaram juntos de conferências, oficinas e encontros literários, influenciando gerações de escritores e leitores.

A casa onde viveram no Rio de Janeiro tornou-se um espaço de criação e diálogo, refletindo a simbiose entre suas personalidades e seus ofícios. A cumplicidade do casal era evidente, e seu impacto na cultura brasileira se fortaleceu a cada nova obra publicada.

A filha Alessandra Colasanti

Dessa união nasceu Alessandra Colasanti, que seguiu carreira no meio artístico, destacando-se como atriz, dramaturga e diretora. Com um olhar criativo e uma forte influência literária herdada dos pais, construiu uma trajetória sólida no teatro e na televisão brasileira.

Alessandra não apenas carrega o nome de uma família de artistas, mas também tem se consolidado como uma profissional de múltiplos talentos.

Sua presença na cena cultural brasileira reforça o impacto do legado deixado por Affonso e Marina, mostrando como a arte pode ser transmitida e ressignificada entre gerações.

Seu trabalho na dramaturgia reflete a sensibilidade e a profundidade que marcaram a escrita de seus pais, demonstrando como a literatura e o teatro podem dialogar de maneira orgânica.

Affonso Romano de Sant’anna e Marina Colasanti

A morte dos dois

Marina Colasanti faleceu em 28 de janeiro de 2025, aos 87 anos, no Rio de Janeiro. Sua partida representou uma grande perda para a literatura nacional, sendo amplamente lamentada por leitores, escritores e críticos.

Seu legado, no entanto, segue vivo em suas obras, que continuam a ser lidas e estudadas em escolas e universidades.

Pouco mais de um mês depois, em 4 de março de 2025, Affonso Romano de Sant’Anna também faleceu, vítima de complicações do Alzheimer. A proximidade das mortes dos dois intensificou a comoção e reforçou a ideia de uma vida compartilhada até o fim.

Diversas instituições culturais prestaram homenagens ao casal, ressaltando sua importância para a literatura e a educação no Brasil. Eventos, exposições e releituras de suas obras reforçaram a relevância de seus trabalhos e o impacto que tiveram no cenário cultural.

Conclusão

Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti deixaram um legado inestimável. Foram mais do que escritores talentosos; foram intelectuais que influenciaram gerações com suas reflexões, questionamentos e produções artísticas.

Seu amor, que transcendeu a vida, refletiu-se em cada palavra escrita e em cada projeto compartilhado. A literatura brasileira se enriqueceu com suas contribuições, e seus textos continuam a inspirar leitores em busca de poesia, crítica e emoção.

Mesmo após suas partidas, a essência de Affonso e Marina permanece viva em suas obras. Seus livros não são apenas registros do passado, mas janelas para o futuro, perpetuando a arte e a cultura brasileira para as próximas gerações.

Anand Rao e Agnes Adusumilli

Editores Chefes

Cultura Alternativa