Editoras brasileiras faturaram 36% com conteúdos digitais em 2020
Em 2019, o faturamento atingiu R$ 103 milhões, diz CBL
O faturamento das editoras brasileiras com conteúdo digital cresceu 36% no ano passado, em termos reais, isto é, descontada a inflação, somando R$ 147 milhões. O crescimento nominal da receita foi de 43%. Em 2019, o faturamento atingiu R$ 103 milhões.
As informações constam da Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, divulgada hoje (1º) pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). A sondagem teve dados apurados pela Nielsen Book.
O impulso observado no setor de livros digitais foi atribuído pelo presidente do SNEL, Marcos Pereira, à pandemia do novo coronavírus.
“Teve essa circunstância de o mundo ficar muito online durante a pandemia e teve uma migração muito forte para esse formato”, analisou, em entrevista à Agência Brasil.
“É a primeira vez que a gente tem a oportunidade de mostrar dados comparáveis, que é uma coisa muito boa. Foi um ganho enorme. A partir de agora, a gente incorpora o conteúdo digital nas análises anuais”, assegurou Pereira.
Editoras brasileiras
Desempenho
O resultado registrado inclui a produção e venda de e-books, audiolivros e outras plataformas de conteúdo digital em 2020.
O desempenho observado no ano passado fez o conteúdo digital passar a representar 6% do mercado editorial nacional, contra 4%, no ano anterior.
A pesquisa revela que do faturamento total com conteúdo digital em 2020, R$ 103 milhões foram de unidades vendidas para download (baixar dados de um sistema remoto) no computador ou smartphone, em operação conhecida como à la carte.
Os restantes R$ 44 milhões foram de unidades vendidas por meio de outras plataformas de distribuição, como biblioteca virtual e serviços de assinatura de leitura digital.
Marcos Pereira chamou a atenção para as bibliotecas virtuais, que são uma ferramenta muito utilizada pelas editoras profissionais. “Essa indústria foi sempre muito atacada pela pirataria na chamada cópia ilegal”, explicou. Isso ocorreu principalmente na categoria de livros científicos, técnicos e profissionais (CTP), como medicina e direito, em que as pessoas precisavam ler determinados capítulos de um livro e não a obra inteira.
“Esses livros são mais caros, normalmente, e isso acabava sendo oferecido de forma ilegal, em copiadoras. E a maneira como a indústria conseguiu resolver isso foi criando bibliotecas virtuais, que permitem a venda fracionada.
E, com isso, remunera o autor”. Marcos Pereira argumentou que, ao criar um mecanismo legal e ágil, as pessoas passaram a utilizar. “É um ganho enorme quando a gente oferece as coisas e tem inteligência. A melhor maneira de se combater a pirataria é oferecer o conteúdo a um preço justo, afirmou.
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E-books
Do total de 8,57 milhões de unidades vendidas à la carte, 92% foram e-books e 8%, audiolivros. Este último é um formato ainda pouco conhecido dos brasileiros, disse o presidente do SNEL. “Mas é importante que a gente inclua na pesquisa e vá seguindo esse segmento ao longo do tempo”.
O aumento das vendas em comparação a 2019 atingiu 81%. Do total vendido, 41% eram obras de ficção, compreendendo literatura infantil, juvenil, jovens adultos, literatura geral, poesia etc.; 39% não ficção (biografias, ensaios, autoajuda, negócios, espiritualidade, religião, entre outros); e 20% CTP.
A queda real de 25% no preço médio de e-books reflete também o efeito da pandemia, de atrair o leitor com estratégias de promoção muito agressivas, indicou Marcos Pereira. O acervo total foi de 81,33 mil títulos em 2020, alta de 15% sobre o apurado em 2019.
Os lançamentos envolveram 10,33 mil títulos novos em circulação no mercado no ano passado, mostrando elevação de 16% em relação a 2019. A categoria ficção foi a que mais registrou lançamentos de um ano para o outro, com expansão de 27%.
O presidente do SNEL acredita que mesmo que haja uma retomada das vendas do livro físico diretamente nas livrarias, no pós-pandemia, o conteúdo digital deverá continuar em alta.
“A gente tem que lembrar que, no ano passado, houve queda do livro físico e crescimento do livro digital. Mas, sem dúvida, o que eu adoraria ver é o crescimento saudável dos dois segmentos. Sei que isso está acontecendo nos segmentos de livros de ficção e não ficção”, comentou.
Marcos Pereira explicou que o livro digital está crescendo, passando de uma fatia de 4% para 6% do mercado entre 2019 e 2020.
“Eu acho que a gente vai repetir esse percentual de 50% de crescimento e, talvez, vá de 6% para 8%, em 2021, que é um crescimento robusto, de qualquer maneira. Eu não sei qual é o limite. Não dá para especular”. Tudo vai depender do esforço da indústria, disse.