Empresas e inovação - Cultura Alternativa

Incumbente: tradição aliada a inovação

Empresas e inovação

Incumbente: tradição aliada a inovação

Sandro Schmitz dos Santos – Doutorando em Economia, com extensão universitária em FinTech pela Universidade de Chicago, Sócio-Diretor da Austral Consultoria e Investimentos, Colunista de Economia do Portal Cultura Alternativa, Professor de Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado e Economia Internacional em Porto Alegre/RS.

Dentro do “idioma” da inovação temos dois modelos de empresas, as incumbentes que são as empresas que se preocupam em melhorar seus produtos e serviços para a parcela de clientes que gera mais demanda e lucro, superam as expectativas desse segmento e ignoram as necessidades de outros, sendo de modelos tradicionais, mas com pouca adaptação a mudanças; e, as empresas insurgentes, empresas que olham para esse mercado mal endereçado e geram algo novo — uma solução disruptiva.

No âmbito das incumbentes temos dois tipos de reação possível. A mais comum, atacar, encontrar formas de deslegitimar ou proibir a solução melhor.

Esse foi o modelo adotado pelos taxistas frente a inovação imposta pelo Über quando acompanhamos diversas campanhas contra a nova empresa, tentativas de proibir/restringir a atividade dos motoristas do aplicativo, e, em casos extremos ocorrências de violência contra eles.

O outro modelo de reação é a busca de parcerias com insurgentes, atuar como investidor para novas empresas, ou, ainda criar unidades de inovação dentro de sua estrutura para acompanhar essa evolução.

No presente artigo irá ser apresentada três empresas que participaram do South Summit e servem de exemplo em sua atuação.

São elas, em nível global a Coca-Cola, em nível nacional o SEBRAE, e, em nível local, mas com atuação nacional, O Banco do Estado do Rio Grande do Sul, BANRISUL.

A Coca-Cola, empresa conhecida em nível global, é conhecida por, desde sua origem, a incentivar a inovação em seus produtos. Apesar disso, toda empresa tende a, com o tempo, desacelerar seu processo de inovação.

Tendo sido criada em 1886 pelo farmacêutico John Pemberton a Coca-Cola evoluiu para essa marca reconhecida ao redor do mundo.

Curiosamente, o nome da empresa foi criado pelo contador da mesma na época, Frank Mason Robinson, que também fez a clássica logo com sua caligrafia, tendo em vista que seu primeiro nome foi “Pemberton’s French Wine Coca”.

Com sua sede em Atlanta/USA, cidade onde surgiu, a Coca-Cola é hoje conhecida como uma marca símbolo do processo de globalização e quinta marca em valor no mundo em pesquisa realizada em 2022.

Contudo, a empresa é conhecida por buscar, de forma permanente, novos sabores. Durante o South Summit a Coca-Cola fez uma consistente ação comercial para apresentar o novo sabor da Coca-Cola Creations, nessa ocasião com o sabor escolhido pela cantora Rosalia.

Essa série, Coca-Cola Creations lança, periodicamente, novos sabores definidos por artistas mundialmente famosos.

A campanha anterior foi uma Coca-Cola apadrinhada pelo DJ Marshmello. Em regra, esses sabores são comercializados pelo período de quatro meses apenas, contudo houve uma exceção: a Coca-Cola café, cuja enorme aceitação determinou sua permanência no catálogo da empresa. Inovação está no DNA da empresa há décadas, pois desde o século XIX a Coca-Cola inova em seus produtos.

Em março de 1894 a Coca-Cola seria vendida pela primeira vez em garrafas, inaugurando uma nova fase para bebidas não alcoólicas. No ano de 1929 a empresa lançou uma caixa de metal, que a conservava gelada nos postos de vendas, chamado de “open-top cooler”.

Em 1931 a empresa utiliza pela primeira vez a imagem do Papai Noel com a roupa que conhecemos, pois até então o personagem utilizava roupas verde e vermelha.

Durante a Segunda Guerra Mundial a empresa desenvolveu “fábricas” móveis que foram enviadas para as frentes de batalha junto com técnicos da empresa, que garantiam a produção e a distribuição da bebida para os soldados.

Como pode ser visto, inovar não é algo recente para a Coca-Cola. Com sua expansão em nível global a empresa passa a fazer novas criações em âmbito regional para atender ao seu público. Assim sendo, nada mais natural sua participação em um evento dessa natureza.

Outra marca amplamente conhecida em nosso país é o SEBRAE, especialmente pelo excelente trabalho realizado em apoiar a formalização de novas empresas e o permanente ensino de técnicas de gestão para os novos empresários.

Em função desse fato não foi nenhuma surpresa quando foi criado o SebraeX, a unidade de negócio do SEBRAE que se tornou a nova marca de inovação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do RS. Assim sendo, temos toda o Konw how do SEBRAE aplicado a criação de startups e projetos de inovação.

O Banco do Estado do Rio Grande do Sul, BANRISUL, foi fundado em 1928 se tornando a principal instituição financeira do Rio Grande do Sul. Devido à suas características comerciais, pois a instituição tem unidades em todo o território do estado, razão pela qual a esmagadora maioria das empresas se tornam clientes do banco ao ter negócios no estado. Contudo, a instituição está ciente do processo de evolução do mercado financeiro, assim como de empresas em todos os setores.

Dessa forma, o banco criou o BanriTech, sua inciativa ampla que visa impulsionar o ecossistema de inovação do Rio Grande do Sul. Nosso objetivo é fortalecer e ampliar a inovação no Banrisul e no estado.

Essa unidade de negócios do banco é responsável por seu programa de aceleração, construção de network do ecossistema, e, apoio no processo de captação de recursos e capacitação dos integrantes desse ecossistema. Desde 2021 participaram de seu programa de aceleração 60 startups, com mais de 130 empreendedores envolvidos.

Essa aliança entre incumbentes e insurgentes fortalece ambos os lados, pois os incumbentes auxiliam as novas empresas, não apenas com recursos, mas também com sua ampla experiencia de mercado e tradição de uma marca consolidada favorecendo uma maior taxa de sucesso, pois conseguem antever uma série de riscos aplicáveis à seus parceiros enquanto os insurgentes possuem uma excelente percepção das necessidades de inovação para os mercados que atuam.

Artigo – Sandro Schmitz dos Santos – Analista e Consultor Internacional, Sócio-Diretor da Austral Consultoria [www.austral.cc]

e-mail: sandro.schmitz@austral.cc

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha do Cultura Alternativa.

Cultura Alternativa