O que os Hábitos Alimentares Revelam sobre Homens e Mulheres em São Paulo
Imagine o cenário: o relógio marca 20h em São Paulo. De um lado da cidade, um homem escolhe um restaurante para jantar com colegas após o expediente.
Do outro, uma mulher, exausta após um dia triplo entre trabalho, casa e filhos, faz um pedido rápido pelo aplicativo.
Ambos estão se alimentando fora de casa — mas de formas bem diferentes. E essa diferença vai muito além da escolha do cardápio.
📊 Uma pesquisa que alimenta a reflexão
Segundo o estudo “Sabores de São Paulo”, divulgado em 2024 pela plataforma de inteligência Nexus, 52% dos homens paulistas preferem almoçar ou jantar fora de casa, enquanto 55% das mulheres demonstram preferência por pedir comida por aplicativos.
A diferença entre os gêneros não é apenas estatística — ela evidencia comportamentos sociais distintos, influenciados por fatores como renda, tempo disponível e até segurança pública.
Embora 35% dos paulistas comam fora e 31% utilizem o delivery de duas a três vezes por semana, a frequência e a motivação variam amplamente.
Para os que recebem mais de cinco salários mínimos, os índices sobem para 75% e 72%, respectivamente. O acesso econômico claramente molda a forma como as pessoas consomem suas refeições fora do lar.

🧠 Gênero, trabalho e tecnologia: um triângulo revelador
Os dados ganham profundidade quando cruzados com análises sociológicas e estudos anteriores. Segundo o Inquérito Nacional de Alimentação do IBGE (2008–2009), homens tradicionalmente consomem mais alimentos fora de casa, enquanto mulheres tendem a priorizar refeições domésticas ou práticas.
No entanto, o avanço da tecnologia — especialmente os apps de entrega — tem alterado esse padrão.
Com a sobrecarga ainda majoritariamente feminina na divisão de tarefas do lar (como apontam estudos do Ipea e ONU Mulheres), o delivery torna-se uma alternativa prática.
Para muitas mulheres, trata-se de otimizar o tempo e evitar deslocamentos à noite, sobretudo em uma metrópole marcada pela insegurança urbana.
A pandemia de COVID-19 intensificou essa tendência: uma pesquisa do Instituto Qualibest revelou que os pedidos online saltaram de 40,5% para 66,1% durante o período de isolamento.
E as mulheres, especialmente chefes de família, tornaram-se protagonistas desse novo comportamento.
🌆 A cidade e seus contrastes
Outro dado interessante do estudo da Nexus é a diferença entre regiões. Comer fora é mais comum na capital (54%) do que no interior (42%).
Isso reflete o acesso a uma variedade maior de estabelecimentos, mas também evidencia os contrastes entre mobilidade urbana e oferta de serviços. O que é conveniência para alguns, pode ser luxo ou mesmo inviável para outros.
Essa realidade aponta para a necessidade de políticas públicas que incentivem a alimentação saudável e acessível, tanto em restaurantes quanto por meio de entregas.
🍽️ O que esses hábitos nos dizem?
Mais do que escolhas gastronômicas, os hábitos alimentares revelam dinâmicas sociais complexas. Quando homens optam por refeições fora e mulheres priorizam pedidos por app, temos um reflexo direto da divisão do tempo, do papel de gênero na sociedade e da forma como a tecnologia se encaixa no cotidiano.
Além disso, esses comportamentos apontam para mudanças no convívio social e familiar. O momento da refeição, tradicionalmente coletivo, tem sido fragmentado por rotinas aceleradas, distância física e individualização das escolhas alimentares. A praticidade se sobrepõe ao ritual.

🔍 Conclusão: muito além do prato
Entender como, quando e onde comemos é também compreender as transformações sociais pelas quais passamos. Homens ocupando bares e restaurantes, mulheres clicando em apps entre uma tarefa e outra — são imagens do nosso tempo.
Ao olhar com atenção para esses números, percebemos que o ato de se alimentar fora de casa é influenciado por mais do que apenas gosto pessoal.
Trata-se de um espelho da sociedade urbana, marcada por desigualdades, inovação tecnológica e busca por tempo — talvez nosso recurso mais escasso.
📎 Fontes consultadas: Nexus/FBS, Metropoles, IBGE/Inquérito Nacional de Alimentação, Agência Brasil, Instituto Qualibest, SciELO, Ipea, ONU Mulheres.
REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA