Três músicos brasileiros são autores de gêneros musicais: Luiz Gonzaga criou o Baião e formatizou o Forró, João Gilberto criou a Bossa Nova e Tião Carreiro é criador de um gênero chamado Pagode. Não confundir o Pagode criado por Tião como Pagode subgênero do Samba.
Tião Carreiro deu novos rumos sonoros para a viola, seu Pagode poderia ser dançante e ao mesmo tempo trazer reflexões sobre as desigualdades sociais, denunciar a violência do latifúndio contra pequenos agricultores, trabalhadores rurais e racismo.
Foi o canto grave de Tião em defesa dos pobres esquecidos pelo interior do Brasil profundo que me chamou atenção. Seu canto é o reflexo desse Brasil interiorano, frágil e desprotegido. Seja um sertanejo nascido nos sertões nordestinos ou nos sertões do centro-oeste a trilha lamento da música de Tião é parte da mesma lida diária pela sobrevivência.
Tião Carreiro teve muitos parceiros, o mais conhecido foi Pardinho, sua fiel segunda voz, harmonia perfeita para sua viola virtuosa e cheia de possibilidades musicais. Quase sempre gravavam sozinhos, apenas violas e vozes o que fazia por isso suas músicas tinham um som melancólico e saudosista.
Em “Preto Velho” encontramos um dos mais dolorosos relatos de um trabalhador cantado em versos e música. O Preto Velho conta com dolorida recordação seus tempos de trabalhador servil em contraste com a amargura da velhice solitária e desprezada pelo patrão.
Na canção “É isso que o povo quer” Tião mais uma vez investe na relação patrão x empregado, capital x ócio. É perceptível que Tião não crer na possibilidade da felicidade sem dinheiro, sem o capital humanizado que contente lucro sem exploração.
Em “O Pulo do gato” fala da exploração de meninas por um sujeito que pelo dinheiro fazia o que bem queria e sempre escapava até que um dia abusou da filha de um homem pobre que o matou. A música serve como metáfora para relação oprimidos x opressores.
“Chega de tanta sujeira” fala das misérias do mundo, mas aposta que todas essas misérias serão vencidas. É uma música com forte apelo moralista aborda a degradação das relações familiares e políticas.
“Osso duro de roer é o Brasil da atualidade/ é doído a gente ver a cruel desigualdade/ o pobre fica mais pobre e o rico enriquece mais/ tubarões e agiotas aumentam seus capitais/ o povo segue sem rumo em uma canoa furada”. Esses versos são da música “Osso duro de roer”. Uma música cantada com indignação na qual Tião explora as contradições de um Brasil que pelas desigualdades sociais alimenta corrupções e violência.
“Traidor da minha pátria não merece meu perdão/ o malandro vira santo quando o advogado é bão” Esses versos são da música “Uma coisa puxa outra”, um canto contrariado pelo país ser constantemente roubado por uma elite cruel e desumana.
“Ladrão de Terra” nos conta a história de uma viúva que teve suas terras roubadas por um latifundiário. O filho da viúva ao procurar a justiça percebe que ela defende os ricos e oprime os pobres.
O racismo também foi denunciado por Tião Carreiro em músicas como: “Preto Inocente”, “O preto e granfino”, “Preto velho” e a dramática “Pretinho aleijado”.
Deixo o convite para você ouvir e descobrir muitas outras canções cantadas por Tião Carreiro que falam desse outro Brasil, o Brasil da roça, campo, vibrante, injustiçado. O Brasil que nos alimenta muitas vezes tem as mãos sujas de sangue e incríveis histórias de resistência diante o poder dos modernos coronéis agora muitas vezes disfarçados de grandes corporações do agronegócio.
?? Por Ediney Santana, para o Cultura Alternativa ??
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