Fim do Plano de Saúde 100% Pago? Empresas Repensam Benefícios e Cobranças Crescem
Um novo padrão nas organizações brasileiras
Em 2025, os planos de saúde com coparticipação passaram a ser adotados por 79% das empresas brasileiras, segundo levantamento da healthtech Pipo Saúde.
Essa modalidade transfere aos colaboradores parte do custo de consultas, exames e procedimentos, transformando um benefício antes integral em um modelo de divisão de despesas.
Em 2023, apenas 52% das corporações utilizavam esse sistema, revelando uma guinada significativa na estrutura dos pacotes oferecidos.
Esse crescimento está diretamente ligado ao aumento expressivo dos custos com saúde suplementar. O avanço tecnológico, a ampliação do acesso e a frequência de uso dos serviços provocaram elevações sucessivas nos contratos com operadoras.
Para equilibrar as finanças, empresas de diferentes portes passaram a repartir esses valores com suas equipes.
Entretanto, essa reconfiguração exige uma abordagem clara e empática. Muitos profissionais desconhecem os detalhes da coparticipação e se surpreendem com cobranças inesperadas.
O diálogo transparente entre setores de gestão de pessoas e funcionários torna-se essencial para a aceitação dessa nova dinâmica.
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Descontos salariais: o novo peso no contracheque
Outro dado marcante do estudo da Pipo Saúde mostra que 58% das companhias passaram a descontar, diretamente da folha de pagamento, uma parcela da mensalidade do plano.
Esse número cresceu em relação a 2023, quando era de 40%. A prática torna-se comum entre negócios que desejam manter o benefício, mas não conseguem mais absorver integralmente os reajustes.
Esses descontos variam amplamente. Em empresas médias, a contribuição do empregado gira entre 10% e 20%, podendo ultrapassar 30% em cargos iniciais.
Já grandes corporações têm adotado escalas progressivas, respeitando níveis salariais, enquanto startups preferem planos mais simples, com foco em serviços digitais e rede compacta.
Essa nova realidade traz consequências práticas para o trabalhador. A compressão da renda líquida afeta o orçamento familiar, sobretudo entre os que enfrentam o alto custo de vida nas grandes cidades.
Uma pesquisa da Mercer Marsh revelou que 37% dos profissionais avaliam abrir mão do plano empresarial diante do aumento da despesa mensal.
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Pressão silenciosa: a escalada da inflação médica
A chamada inflação médica, que reflete o aumento dos custos com tratamentos, exames e tecnologias no setor de saúde, superou o índice oficial de preços.
Em 2024, enquanto o IPCA fechou em cerca de 4%, os reajustes médios dos planos empresariais alcançaram 12%, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Diante disso, muitas organizações estão investindo em programas preventivos e estratégias de bem-estar. Iniciativas como orientação nutricional, acompanhamento psicológico, acesso a telemedicina e incentivo à atividade física tornaram-se parte das ações corporativas. A meta é reduzir a sinistralidade e evitar tratamentos caros no futuro.
Porém, esses resultados não são imediatos. A redução de custos acontece de forma gradual, o que faz com que muitas empresas adotem medidas complementares, como redes referenciadas mais enxutas e modelos com franquias. A busca por equilíbrio entre economia e cuidado humanizado ainda é um desafio constante.
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O outro lado: desconforto e risco de desistência
Na visão dos funcionários, essas mudanças provocam insegurança e sensação de perda. O que antes era um diferencial competitivo — o plano de saúde integral — hoje aparece como uma obrigação compartilhada.
Esse deslocamento na percepção do benefício pode afetar o engajamento, especialmente entre trabalhadores de baixa renda.
A Mercer Marsh aponta que quase um terço dos empregados entrevistados considera buscar alternativas no mercado individual, mesmo com menor cobertura.
No entanto, esses planos fora do ambiente corporativo são, em geral, mais caros e menos vantajosos, com prazos de carência e atendimento limitado.
Além disso, a judicialização dos planos empresariais está em alta. Pacientes com doenças crônicas, diante da impossibilidade de arcar com custos recorrentes, recorrem ao Judiciário para garantir a continuidade dos tratamentos.
Empresas que não documentam bem suas políticas podem enfrentar ações e indenizações inesperadas.

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Caminhos para o futuro: flexibilidade e empatia
A tendência mais promissora é a personalização dos benefícios. Modelos flexíveis permitem que os colaboradores escolham, entre diferentes opções, o plano que mais se adequa às suas necessidades e à sua realidade financeira. Isso aumenta a percepção de justiça e valoriza a autonomia do indivíduo.
Organizações como Nubank, iFood e Natura já utilizam plataformas digitais de benefícios, como Caju e Flash, permitindo que o trabalhador distribua sua verba entre saúde, alimentação, transporte e educação. Quando aplicado à saúde, esse sistema possibilita escolhas conscientes, tornando o benefício mais eficaz.
O plano de saúde continua sendo o item mais valorizado entre os profissionais brasileiros, superando até bônus financeiros. Para preservá-lo como um diferencial competitivo, será necessário adaptar o modelo às novas exigências econômicas, com comunicação clara, escuta ativa e gestão estratégica dos custos.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa