O Impacto da Escrita na Educação
Em um país onde as desigualdades educacionais e salariais persistem como realidades diárias, um estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) traz dados que são, ao mesmo tempo, alarmantes e esperançosos.
O relatório Visão Geral da Educação 2024 destaca a importância do nível educacional para o futuro profissional dos brasileiros e lança luz sobre o impacto da educação na distribuição de renda.
No entanto, o ponto central desta discussão envolve algo ainda mais específico: o papel da escrita como ferramenta de ascensão social.
O Brasil, em comparação com os países da OCDE, mostra lacunas gritantes em termos de empregabilidade e remuneração, principalmente para aqueles que não atingem níveis educacionais mais altos.
Por exemplo, entre os adultos sem ensino médio, apenas 58% estão empregados, e 61% ganham menos ou o equivalente à média salarial nacional.
Nos países da OCDE, essas taxas são 59% e 30%, respectivamente. A diferença, que pode parecer pequena, demonstra uma realidade complexa: a falta de escolaridade no Brasil tem consequências ainda mais severas no mercado de trabalho.
O Impacto da Escrita na Educação
A Educação e o Mercado de Trabalho
Para os brasileiros que conseguem concluir a educação básica, o cenário melhora ligeiramente. Dados indicam que 73% dessas pessoas estão empregadas, mas 41% ainda enfrentam a dificuldade de ter a média salarial como teto.
Em países desenvolvidos, essa taxa é de 18%, apontando para uma maior flexibilidade e mobilidade salarial nesses mercados.
Ou seja, mesmo com um diploma do ensino básico, o mercado brasileiro ainda impõe barreiras significativas ao crescimento financeiro.
Entre os que concluem o ensino superior, o panorama muda mais drasticamente. Cerca de 86% dos brasileiros com diploma universitário estão empregados, mas 23% ainda ganham menos ou igual à média salarial.
A comparação com os países da OCDE é clara: lá, apenas 10% dos graduados estão nessa faixa salarial.
A conclusão parece óbvia: o diploma universitário é uma chave para melhores salários, mas não resolve todas as desigualdades que permeiam o mercado de trabalho brasileiro.
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Escrever para Crescer
No entanto, uma questão central emergente a partir desses dados é o impacto direto da escrita no desempenho acadêmico e profissional.
Pesquisas recentes têm demonstrado que incentivar a produção textual entre os estudantes da rede pública pode ser uma poderosa ferramenta de ascensão social e financeira.
Um estudo conduzido no estado do Ceará, por exemplo, focou na relação entre as habilidades de escrita e leitura com o acesso ao ensino superior e melhores oportunidades de emprego.
Os dados mostram que a melhoria na produção textual pode ter efeitos profundos, especialmente para estudantes que almejam ingressar em universidades e alcançar melhores salários.
A pesquisa no Ceará, financiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, propõe o uso de programas pedagógicos focados em leitura e escrita, como o desenvolvido pela Letrus, para preparar os alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, consequentemente, para o mercado de trabalho.]
O Impacto da Escrita na Educação
A Escrita e o Enem: Oportunidade ou Desigualdade?
O Enem, principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil, também é um reflexo dessas disparidades.
Um dado alarmante destaca que os estudantes da rede pública precisam, em média, tirar 191 pontos a mais na redação para alcançar os alunos das redes privadas.
Isso revela uma distância que não se limita ao campo econômico, mas também ao nível de preparo educacional.
É importante notar que, mesmo com os esforços de políticas públicas e programas pedagógicos, a desigualdade de acesso ao ensino superior é evidente.
O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) das escolas privadas, por exemplo, é de 6,5, enquanto o das escolas públicas não passa de 4,1. Essa diferença impacta diretamente na preparação para o Enem e, por consequência, nas oportunidades de acesso às melhores universidades e ao mercado de trabalho.
Uma Luz no Fim do Túnel
Por outro lado, há sinais de esperança. Um estudo anterior, realizado no Espírito Santo e financiado pelo J-PAL, do Massachusetts Institute of Technology, demonstrou que, após cinco meses de prática textual e aplicação de programas pedagógicos voltados para a escrita, foi possível elevar a média de redação dos estudantes em 31 pontos.
Esse ganho levou os alunos ao topo do ranking nacional entre as escolas estaduais.
Esses resultados indicam que a escrita pode, de fato, ser um diferencial decisivo para melhorar o desempenho dos estudantes da rede pública, tanto no Enem quanto em sua trajetória profissional futura.
A produção textual, muitas vezes subestimada, emerge como uma ferramenta essencial não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para a inserção em um mercado de trabalho cada vez mais exigente.
O Impacto da Escrita na Educação
Conclusão: Escrever é Fazer Justiça
O cenário educacional brasileiro ainda está longe de ser ideal. As disparidades salariais e de acesso ao ensino superior entre as redes pública e privada são grandes e complexas.
No entanto, incentivar a escrita e a leitura, especialmente entre os estudantes mais vulneráveis, pode modificar esse cenário de maneira rápida e eficiente.
Os programas focados na produção textual são mais do que apenas ferramentas acadêmicas. Eles são meios de fazer justiça social, oferecendo a estudantes da rede pública uma oportunidade real de ascensão e uma forma de competir em um mercado de trabalho que valoriza, acima de tudo, a educação.
Analisar os dados da OCDE e observar os estudos realizados no Brasil nos leva a uma conclusão simples, mas poderosa: aprender a escrever é mais do que dominar uma habilidade técnica, é abrir portas para um futuro melhor, onde a educação pode ser, de fato, a chave para a justiça social.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa