Pedalar: Exercício que Organiza o Cérebro e Beneficia Pacientes com Parkinson
Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros das universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Paraná (UFPR), em parceria com instituições de saúde do Reino Unido, trouxe à tona novas descobertas sobre os benefícios do ciclismo para o cérebro.
A pesquisa, publicada na revista científica Plos One, destaca como pedalar, especialmente em circunstâncias específicas, pode reorganizar a atividade cerebral e oferecer vantagens significativas para aqueles que enfrentam doenças neurodegenerativas, como o Parkinson e o Alzheimer.
A Inspiração para o Estudo
A ideia para a pesquisa teve origem em um caso clínico intrigante observado em um estudo holandês, onde um paciente com Parkinson em estágio avançado apresentava dificuldades para caminhar, caracterizadas por instabilidade e tremores, mas conseguia pedalar sem problemas quando colocado em uma bicicleta.
Esse fenômeno chamou a atenção dos cientistas, levando o neurocientista John Fontenele Araújo, professor da UFRN e coautor do estudo, a investigar mais profundamente os mecanismos por trás dessa resposta positiva.
“Enquanto andar a pé já não era uma tarefa simples, o paciente mostrava uma capacidade surpreendente de pedalar com fluidez, o que sugeria a existência de um processo neurológico específico envolvido. Isso nos levou a explorar como o ciclismo poderia afetar a organização do cérebro”, explica Araújo.
PEDALAR
A Simetria dos Movimentos e Seus Efeitos no Cérebro
Um dos aspectos mais interessantes descobertos durante o estudo é a relevância dos movimentos simétricos realizados ao pedalar. Diferentemente da caminhada, onde as pernas se movem de forma alternada, o ciclismo oferece um padrão de movimento simétrico, já que os pedais estão acoplados.
Essa característica se mostrou importante para ajudar na reorganização cerebral, facilitando a execução de movimentos que, de outra forma, poderiam ser complexos para quem sofre de doenças neurológicas.
Os pesquisadores observaram que durante a pedalada, a entropia cerebral — uma medida que indica o nível de desorganização na atividade neural — diminuiu significativamente nos participantes. Isso foi especialmente notável quando os voluntários pedalavam com os olhos fechados, o que aumenta a demanda pelo uso dos sentidos corporais e promove uma reorganização mais eficiente do cérebro.
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Pedalar Sem Força: Uma Atividade Inclusiva
Embora o estudo tenha utilizado uma bicicleta estacionária horizontal, que se assemelha a um pedalinho, os resultados indicam que a prática de pedalar pode ser adaptada a diferentes tipos de equipamento, desde que certos cuidados sejam tomados.
Para indivíduos com condições como Parkinson, é recomendável que o exercício seja realizado em ambientes seguros, utilizando bicicletas com cadeiras que ofereçam suporte, como encostos, para evitar quedas e proporcionar maior estabilidade.
Araújo ressalta que não é necessário fazer força para colher os benefícios do ciclismo. “O que conta não é o esforço físico, mas sim os estímulos sensoriais que ocorrem nas pernas e nos joelhos durante o movimento.
Esses estímulos ajudam a sincronizar os impulsos nervosos, reduzindo a complexidade da atividade cerebral”, aponta o pesquisador. Ele acrescenta que até mesmo o uso de motores nos pedais pode ser benéfico, já que o importante é manter as pernas em movimento, gerando o retorno sensorial necessário.
PEDALAR
Por Que o Ciclismo Pode Ser Mais Eficaz do Que Caminhar?
A pesquisa sugere que a repetição constante dos movimentos e os estímulos sensoriais associados ao ciclismo fazem com que essa atividade seja mais fácil para o cérebro organizar do que a caminhada.
A ação repetitiva ao pedalar simplifica o esforço necessário para manter os movimentos contínuos, tornando-se uma prática acessível e mais segura para aqueles que apresentam dificuldades de locomoção.
Enquanto a caminhada exige uma coordenação complexa e maior esforço muscular para lidar com mudanças no equilíbrio, pedalar proporciona um padrão de movimento mais previsível.
Isso reduz o risco de quedas e melhora a qualidade de vida dos pacientes, que se beneficiam de uma atividade física prazerosa sem o desgaste adicional que outros exercícios podem gerar.
A Importância da Atividade Física para Condições Neurodegenerativas
O estudo reforça a importância de manter uma rotina de atividade física, mesmo para aqueles que enfrentam condições debilitantes. A prática de exercícios que favoreçam a reorganização cerebral pode ter efeitos positivos não só no controle dos sintomas, mas também no bem-estar geral do indivíduo.
Em um cenário onde as opções de tratamento para doenças como o Parkinson ainda são limitadas, investir em atividades físicas adaptadas pode ser um caminho eficaz para complementar as abordagens tradicionais.
No entanto, é fundamental que cada exercício seja realizado de forma segura e supervisionada, especialmente quando se trata de pacientes em estágios mais avançados de doenças neurodegenerativas. Contar com o apoio de fisioterapeutas e profissionais especializados é essencial para adaptar a prática às necessidades de cada pessoa.
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Conclusão: Pedalar para Reorganizar a Vida
O ciclismo, além de ser uma atividade recreativa, pode ser um aliado no tratamento de condições neurodegenerativas, proporcionando uma forma simples e segura de reorganizar a atividade cerebral.
A pesquisa conduzida pelas universidades brasileiras e parceiros internacionais abre caminho para novas abordagens terapêuticas que valorizam o movimento simétrico e os estímulos sensoriais como ferramentas de reabilitação.
Enquanto a ciência continua a explorar os efeitos do exercício físico sobre o cérebro, é certo que pedalar oferece benefícios que vão além do fortalecimento físico, ajudando a restaurar a independência e a melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Adotar essa prática, com as devidas adaptações, pode transformar o cotidiano de quem convive com o Parkinson, tornando o caminho para o bem-estar mais acessível e eficiente.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa